A DOR
Ao meu irmão (in memoriam)...
Ai, doido sonho! Uma estação passou-se
E tantas glórias, tão risonhos planos
Desfizeram-se em pó!
[...]
Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! [...]
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?
No vulto solitário de uma estrela.
[Cântico do calvário – Fagundes Varela]
Certeira vem a Dor, rasgando sonhos,
Mil dardos de cilício tão vorazes,
São golpes lancinantes, que medonhos
N’alma vertem violentos e mordazes.
Espasmos de remorsos eu componho
Em versos tão doídos e fugazes.
E todas as palavras que deponho
São rasgos mais profundos, pertinazes.
Ai, quem dera deter as mãos do Fado,
Retê-las gentilmente entre as minhas...
Irmão, tu não estarias ‘encantado’,
Deixando-me na Terra tão sozinha!
Que fazer dum destino destroçado,
Se dessa vida nada se adivinha?