A DOR

Ao meu irmão (in memoriam)...

Ai, doido sonho! Uma estação passou-se

E tantas glórias, tão risonhos planos

Desfizeram-se em pó!

[...]

Tu dormes no infinito seio

Do Criador dos seres! [...]

Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?

No vulto solitário de uma estrela.

[Cântico do calvário – Fagundes Varela]

Certeira vem a Dor, rasgando sonhos,

Mil dardos de cilício tão vorazes,

São golpes lancinantes, que medonhos

N’alma vertem violentos e mordazes.

Espasmos de remorsos eu componho

Em versos tão doídos e fugazes.

E todas as palavras que deponho

São rasgos mais profundos, pertinazes.

Ai, quem dera deter as mãos do Fado,

Retê-las gentilmente entre as minhas...

Irmão, tu não estarias ‘encantado’,

Deixando-me na Terra tão sozinha!

Que fazer dum destino destroçado,

Se dessa vida nada se adivinha?

Alessa B
Enviado por Alessa B em 14/04/2010
Reeditado em 13/03/2020
Código do texto: T2196408
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