Diálogo entre o poeta e a morte ( Camões )

-Que levas, cruel morte? -Um claro dia.

-A que hora o tomastes? -Amanhecendo.

-Entendes o que levas? -Não entendo.

-Pois quem o faz levar? -Quem o entendia.

-Seu corpo quem o goza? -A terra fria.

-Como ficou sua luz? -Anoitecendo.

-Lusitânia o que diz? -Fica dizendo:

Enfim, não mereci Dona Maria.

-Mataste quem o viu? -Já morta estava.

-Que diz o cru amor? -Falar não ousa.

-E quem o fez calar? -Minha vontade.

-Na côrte quem ficou? -Saudade brava.

-Quem fica lá quer ver? -Nenhuma cousa;

mas fica a chorar sua beldade.

O poeta vê a morte passar levando uma jovem ( como a noite levando "um claro dia" ). Chama-a Dona Maria cuja morte fôra tão cruel que a própria nação Lusitânia ( antigo nome de Portugal ) a lamenta e crê que a perdeu porque não merecia sua grandeza. As pesquisas sobre os manuscritos de Camões começaram a ser feitas no final do século XVI e estão arquivadas em diferentes bibliotecas. Tais pesquisas se contradizem ao determinarem a identidade dessa "Dona Maria" homenageada por Camões. Em um dos arquivos consta como sendo Dona Maria de Távora. A grande dificuldade das pesquisas tem sido o fato de que Camões não datava seus escritos e também não os publicava em livro. O indiscutível é que a jovem era uma nobre fidalga da côrte.

Luiz Vaz de Camões

*Portugal 1524 +Lisboa ( Portugal ) 1580

Valério Márcio
Enviado por Valério Márcio em 09/04/2010
Reeditado em 13/04/2010
Código do texto: T2187133
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