SEM CULPA, A MÁ FORTUNA

E assim, de tantos Erros, fez-se a vida.

Olha-se. No espelho, tal face medra

Esta face ignota, malquerida

Como a outra apartada errante pedra.

Enquanto erra, uma mãe espera

Pela filha ancestral, dela emergida

Aquela que se pensou pura, vera,

Agora a se olhar, assim partida...

Assim partida, muda à revelia,

que mão de Má Fortuna a fez agir

como se cega fora, repentina.

Sem poder acusar a Má Fortuna,

Andrajosa de si, assume a Culpa

de Horror feita: a face neste espelho.

De Zuleika dos Reis, soneto escrito na manhã de 24 de março de 2010, na capital de São Paulo, Brasil.