Soneto de Uma Vida

Vi cordilheiras, olhos cor de mata,

As oliveiras, minas, fartos grãos,

Colinas, pastos, castos cidadãos.

Eu pude ver no véu de uma cascata

Beijar as pedras águas cor de prata.

Vi nas geleiras como corrimãos

Tingir dourado o sábio sol nos vãos.

Na mão a uva, a chuva que arrebata,

O vinho, os lábios ávidos de vida.

Eu vi na vida a vida a toda brida...

Mas toda brisa à noite volta o vento

E assim também, se quer, vejo o arboreto,

É bruma agora o céu do meu soneto...

Há nele pedra, pasto e esquecimento.

Ivo Tavares
Enviado por Ivo Tavares em 20/03/2010
Reeditado em 22/04/2010
Código do texto: T2149169