PRECE INCOMUM (paixão)

PRECE INCOMUM

Se tu existes, Deus, sabes que não dei guarida

de louvor ou indulgência a notáveis abstratos;

nem ao menos o lar com seus gáudios baratos

dissipou-me o orgulho, que é o respaldo na vida.

Sei que vi no amor um sentimento insensato.

senti-me no saldo em bancos e na honra havida;

na humilhante mesura e no sabor do olvido;

vi sapiência em mim; vi tolo o sóbrio gaiato.

Porém estou tartamudeando humilhado,

pelo anjo teu, de carne (e que carne!) flechado

e, tolo, desfolho-lhe incríveis bem-me-queres.

Por isso peço, Deus, me ouve, se tu és real,

me entrega tua escrava – não me julgues mal!

... e farei desse anjo a mais livre das mulheres.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 19/02/2010
Reeditado em 20/02/2010
Código do texto: T2096412
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