Também como esse bosque eu tive outrora
na alma um bosque cerrado de emoções.
As palmeiras das minhas ilusões
iam levando o fuste espaço afora.
Floriam sonhos, era uma pletora
de crenças, de desejos, de ambições...
Não havia por todos os sertões
mais luxuriante e mais violenta flora.
Ai! bosque real é o tempo das queimadas!...
É agosto, é agosto! o fogo arde o que existe
em turbilhões sinistros e medonhos.
Ai de nós!... Somos almas desgraçadas,
pois, na luz de um olhar lânguido e triste
também ardeu o bosque dos meus sonhos...
Menotti Del Picchia - 1892- 1988 - (in Juca Mulato),
Lamentações, soneto, 2.
****************************************************************
TAMBÉM COMO ESSE CÉU
Também como esse céu meu ser oscila
entre as cinzas do ontem e o azul do agora.
Brancas nuvens de sonhos vão-se embora
quando é breu em minh’alma e ela vacila.
Quando amo, o meu ser se rejubila
como o Sol que da Lua se enamora.
E o crepúsculo desce o véu na hora
e assiste ao olhar que a lágrima destila.
Ai! Céu de ilusões! Mar de incertezas!
Cortina do infinito em meu deserto...
Brilham em meu céu estrelas quando as ponho.
Num escuro pensamento de tristeza,
vaga uma luz pro meu caminho certo,
brilhando a realidade do meu sonho.
Hermílio Pinheiro de Macedo Filho
Brasília, 14 de fevereiro de 2010