A Camila
Querida, aquela noite em que eu nascia
De um ventre incauto à escuridão do mundo
Grasnou-me o corvo a horrenda melodia
Que canta-se a algum pobre moribundo.
E quis velar-me, como quem vigia
Sem ter repouso nem por um segundo
Ao projetar-me a sombra imensa e fria
Do espectro do túmulo infecundo.
Quis, por final, ver tudo preparado
Para ver triste a alma enegrecida
Que abandonara ao solitário prado
Mas esquecendo-se da luz perdida
Não pôde o abismo ter-me separado
Da flor querida que encontrei na vida.