AMOR ENCLAUSURADO

Qual pai encarcerado sofrendo calado

pensando no filho,

trancado por fora,

sofrendo por dentro.

Imagens de outrora passam-lhe agora

na mente surrada. Surrada de tanto pensar ( desbotando-se)

O semblante em cariz de amargura

o pobre pai obscuro tem pressa de ver

o filho querido um afago, um beijo, um aceno.

A lágrima que escorre não tem cor de lágrima

a cor é de sangue, a dor tão constante.

o frio da cela, e o pai está nela( chorando).

O filho não sabe que caminhos segue o pai astroso

se vivo, se morto.

A vida se encerra em sua meninice

sem chances, sem gosto para viver(esmorecendo-se)

O filho chora, o pai ora.

Não sabe de nada, se é heroi ou bandido

queria ver o filho, sua cria, sua vida, seu mundo.

Oh! como queria.

Não viu a criança, na ocasião

nela não pensou.

Agora está lá; enclausurado, parado

olhando outros pais, os gritos os ais.

Ora estremece, ora enfraquece

a dor vai aumentando no corpo que amurfina ( parece sangrar ).

como se a dor da saudade do filho

pudesse rasgar-lhe a carne.

O sofrimento da pena de nada lhe vale

sofrimento maior é o da saudade, da vontade

de resgatar antigos valores, voltar atrás,

apagar do caminho antigos trilhos ( com o filho ).

Confabular com a tristeza de nada adianta

sorrir, até canta, mas não é real

alegria fingida, o pai nesta vida

foi só dissabor.

Ele agora adormece, o filho então vem

afaga-lhe os cabelos, beija-lhe, arrulha.

Como lhe fizera no passado ( o colchão está gelado ).

De repente acorda! nada ver.

o filho ocultou-se, apenas um sonho

veio lhe despertar, sacode-lhe a alma

o vento gélido circunda-lhe o corpo ( fraco, quase morto ).

Em outro canto do mundo

nasce um novo pai, livre como a gaivota,

feliz como o colibrí, voa para longe

fugindo, correndo dalí.

Por nada quer ver, a criança que vem,

seu filho, seu sangue.

O pai desdenha aquele anjinho.

Em nada lembrando o heroi-bandido

que sem vontade, por necessidade está escondido.

Amanhã o homem preso será livre

e o que hoje vive tão livremente

não sabe, não pensa

que será um isolado, forasteiro, prisioneiro

da sua própria consciência.

greice
Enviado por greice em 29/01/2010
Código do texto: T2058140