A D O Ç Ã O

A D O Ç Ã O

É quase noite. O sol, ainda uma brasa

viva na fornalha do dia, sóbrio, é o evento;

a brisa fina cai da peneira do vento,

farfalha a folhagem batendo leves asas.

Entanto calor faça, a paz deste momento

insinua candura, e silêncio extravasa;

brincam devaneios no terraço da casa:

são meninos que só existem no pensamento.

A solidão, sua aparente viuvez,

pra quem, na vida, só deu ganho à cupidez,

clama por companhia quando chega a idade.

Pai e mãe – quem gera filhos com sementes suas;

pais nobres – os que adotam os filhos das ruas,

que nunca sentiram na alma o sabor caridade.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 21/01/2010
Reeditado em 22/01/2010
Código do texto: T2043341
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