CONCERTO PARA UM INSONE

Na gelidez da madrugada a brisa amarga
Afaga o rosto umedecido de agonia
O pranto desce, deslizando, e não estia
Recordação me visitou, a voz embarga

A chuva abafa meu soluço... Infame carga!
De novo insone vou ficar, já se anuncia
Estabeleço c'o passado a sintonia
Cruel registro d'outros tempos não me larga

Eu sinto o toque dessa espada que fustiga
Atravessou-me o coração... Sou sofrimento!
Açoite forte e impiedoso me castiga

Sibila o vento das lembranças... Lacerante!
Qual melodia a embalar o meu tormento
Nesse concerto abrasador sou alma errante