Fica morena
para Florbela Espanca
Florbela, te vejo assim como pura flor-de-lis
em tardes calmas, refolhando seus botões;
ao teu redor rulando pombos penas gris
como ternos namorados sussurrando nos portões.
Brilhantes dessa terra portuguesa,
sonetos que aprofundam teus segredos,
te arrancam d'alma a cor singela da turquesa
se a angústia não traz num frêmito teus medos.
Tu, que tens a pele branca do marfim
tão polido que reflete teus anseios,
mas é frio como o inverno do teu peito,
vem ficar morena e te aquecer em mim;
como poeta sempre espero em devaneios:
- te dizer o que sinto, tão sem jeito.