A PENA, A FERRADURA E O COICE
I - A pena
Vinicius! Demorais...
Criastes, à distância do batente,
Tantos versos magistrais, mas andais ausente,
Há meses da diplomacia. Agora, respondais!
Os vadios que me perdoem, mas trabalho é fundamental.
É lindo olhar em Ipanema, o balançado da moça pela calçada...
Mas, o que é bonito e o que é feio quando o vosso salário não é tão mal,
E que o ganhais sem levantar um dedo e sem fazer nada?
Pelos botequins, com um copo de whisky, erras.
Malandragem é tudo o que vosso peito encerra,
Sois playboy, boêmio, indelicado e cheio de vícios.
De vadiagem, será sempre, o vosso nome sinônimo!
No futuro nas bocas de todo e qualquer anônimo.
Sereis vagabundo, sereis sem vergonha. Sereis. Vinicius.
II - A ferradura
Nem figa de figueira, do João, nos livra de verdade.
Nem de seus comentários gritados em sentença bruta.
O que possuis é o poder que todo ditador, desfruta.
E que um dia acaba sem deixar saudade.
A ditadura do vosso ato, aí, editado deixou-me magoado,
E 26 anos do meu trabalho foram, pois encerrados com este acinte.
Que sejais o último a marchar sobre o povo o qual também fui pisado,
E o que tenho a dizer-vos é o seguinte:
Prender e arrebentar, não é o vosso único atributo.
E que bisbilhotar é também o vosso negócio.
E da lida com a grosseria sois, pois, o fruto.
Do povo brasileiro, preferes antes a companhia do cavalo.
Cujo cheiro, para vós é mais sagrado que um sacerdócio.
Reza assim profano túmulo e este túmulo, ireis cavá-lo.
III – O coiçe
Não agrado a todos, mas não sigo só eu vos garanto.
Não sou o que dizeis. Só sei que como poeta eu vivo.
A trilhar meu caminho, que aos poucos avanço e, no entanto,
Meu compromisso é com a poesia. E com denodo a sirvo.
Escrevo sobre a vida. A mais tênue expressão que ela representa.
Construí toda uma obra e esta obra é vasta.
Lancei mão da poesia, do teatro e da música e tudo isto se apresenta.
Por vezes limitado. Para caber toda uma vida, isto só não basta.
Comparastes a nação com estrebaria e não há país que isso mereça!
Num coice cerrai as porteiras. Encerrai em nossa história a fase do temor,
E não será necessário pedir à nação que vos esqueça.
Muito tempo passará até que esqueçam quaisquer resquícios.
Do que falei às almas em poesia. Versos brasileiros de vida e de amor.
Pois me basta ser lembrado em todos os planos morais de: Vinícius.
“Segundo entrevista publicada pela Revista Veja em 12 de janeiro de 2000 o Ex-Presidente João Figueiredo explicou as reais causas da demissão do poeta do Itamaraty: "Ele até diz que muita gente do Itamaraty foi cassada ou por corrupção ou por pederastia. É verdade. Mas no caso dele foi por vagabundagem mesmo. Eu era o chefe da Agência Central do Serviço e recebíamos constantemente informes de que ele, servindo no consulado brasileiro de Montevidéu, ganhando 6 000 dólares por mês, não aparecia por lá havia três meses. Consultamos o Ministério das Relações Exteriores, que nos confirmou a acusação. Checamos e verificamos que ele não saía dos botequins do Rio de Janeiro, tocando violão, se apresentando por aí, com copo de uísque do lado. Nem pestanejamos. Mandamos brasa."
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinicius_de_Moraes Acessado em 26 de dezembro de 2009.
Entrevista concedida ao jornal O Globo, 4 meses antes de falecer e publicada em outubro de 1999: “É um vagabundo sem vergonha.”- Sobre o cantor, compositor e diplomata Vinícius de Moraes.
Fonte: http://pt.wikiquote.org/wiki/Jo%C3%A3o_Baptista_de_Oliveira_Figueiredo Acessado em 26 de novembro de 2009.
"Peço ao povo que me esqueça" João Figueiredo
Fonte: http://74.125.47.132/search?q=cache:qyW75_7xvjEJ:veja.abril.com.br/131102/p_036.html+quero+que+a+na%C3%A7%C3%A3o+me+esque%C3%A7a+joao+batista+figueiredo&cd=10&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br