O QUE FICOU
GRaça Ribeiro
Gosto de escrever ouvindo música
Hoje o tic tac do relógio imaginário
pôs imagem do passado no caminho
livros antigos e página do dicionário
pularam de dentro do meu armário
A memória é um poema adormecido
basta ouvirmos o que o silêncio diz
e a palavra tenta dizer ao aprendiz
para não parar no meio da estrada
desvios são os desatinos da jornada
Os óculos perdidos em cima da mesa
grãos de café sobre a folha amarelada
trouxeram presença do tempo vivido
lembranças já um pouco desbotadas
com o sabor de um amor tão querido
Tornamo-nos apaixonados pelo verso
mas o tempo desta vida nos separou
agora ele é estrela em outro universo
o que ficou foi o que nunca terminou
o amor pela poesia que nos aproximou
Dedicado ao amigo
Jorge Ribeiro Sales que agora é saudade.
SAUDADE
À memória do Poeta Jorge Sales
Odir, de passagem.
Saudade é senso feio e esquisito
Saudade é senso feio e esquisito
que domina, doendo, a nossa mente.
É um feio que lembra do bonito
que se fez imortal dentro da gente.
Saudade é folha que perdeu o escrito
ao ser transcrito em livro permanente.
Saudade é ser passado no presente,
é o real alimentando o mito.
A saudade é sustento da memória,
é de vida a fração que não passou
e no tempo jamais será perdida.
É começo e final de alguma estória
que o presente, passivo, resguardou
para ser no futuro repetida.
Saudade é do poeta o que ficou:
seus versos, sua dor, sua partida...
oklima