À quatro mãos
Quando as palavras estiverem escritas,
não seremos nós talves, que as digam;
quem sabe, nossas almas as sigam
nas asas, que o próprio vento agita.
Quando a prosa já não mais tiver
papas na língua, nem doce saliva,
que desprendeu-se da rima cativa,
não seremos nós o verso que houver.
Virá o verso, acostumado que está,
a tecer rimas que falavam de dor,
desdenhando belezas que outrora tinham.
Rimará a leveza da falta da vida que há,
achando simples agora, falar de amor;
entendendo enfim, os poemas que vinham.