Soneto peregrino
Já parti noutras cruzadas, noutras vidas
Fui cavaleiro num arreio sem ter dorso
No carnaval deste cortejo, ou será corso
No meio do nada, despojada sem guarida
Já me ordenei cristã, sem em mim fazer fé
Travei batalhas mas não sei se as venci
Do meu valor ainda não me convenci
Só muito a custo vou-me mantendo de pé
Sou peregrina, carrego um peito de dor
Talvez eu seja tudo aquilo que não sou
Mas é nos céus que descubro o amor
No palco ri da minha triste e pobre sorte
Fui artesã, moldei em barro a minh´alma
Mas o meu destino não termina com a morte