BEBERAGEM
Hoje o espaço é de luzes cheio!
Sem esporas, rédeas e freio,
Vamos a cavalo a um destino
Que o vinho torna o céu divino!
[Charles Baudelaire]
Te sorvo na volúpia deste vinho,
Que desce na garganta e feito fel
Azeda nas artérias, faz-me ninho,
Deitando mil memórias a granel.
Em todas elas, eu sempre adivinho
Teu rosto destilado sobre um véu,
De cada uma, retiro todo espinho
E cravo nas entranhas de um papel.
A taça permanece tão vermelha,
É sangria desatada no meu leito,
Voragem palpitante desparelha,
É chama presa, fogo liquefeito
E flamba no fervor duma centelha
E queima na vertigem do meu peito.