GRITO BASTARDO

Nasce-me da alma um grito bastardo,
Filho de ninguém, non grato, indigente,
Solta-se no vácuo, herege, descrente,
De encontrar trigais sanados de cardos...

É voz de ninguém, sem saber ao certo
Que raízes suas se deva podar
Ou que alvos torpes deva mutilar,
Para que se cumpra projéctil liberto...

Cego de justiça, desvê o caminho,
Desvenda silêncios e fere concílios,
Sangra o próprio peito em vã mea culpa

Voltando ao leito, coberto de linhos
E em pudor se entrega a cruel exílio -
- Vencido da verve que se diz mais culta...