ANJELUS DOMINI (soneto brasileiro)
ANGELUS DOMINI
Em meia viagem, qual lâmina luminosa,
cortando os ares ao horizonte o astro se inclina.
Fende o azul como se ao véu do templo; fascina.
Do profundo abismo mergulha a nebulosa.
Fulva carruagem em chama, ardente lume,
segundo a segundo ao lúdico passeio o leva.
Mártir da própria sina vai à densa treva,
mesmo de luz pródigo e força, o etéreo nume.
No fim da tarde, no langor flavo do ocaso,
sol posto, luz reposta da treva ao vaso,
faz-se o espetáculo de rara harmonia.
E na gala ocre e venial desse crepúsculo,
céu e terra, em silêncio, se irmanam num ósculo.
À hora do anjo, frente a frente, a noite e o dia.