ANJELUS DOMINI (soneto brasileiro)

ANGELUS DOMINI

Em meia viagem, qual lâmina luminosa,

cortando os ares ao horizonte o astro se inclina.

Fende o azul como se ao véu do templo; fascina.

Do profundo abismo mergulha a nebulosa.

Fulva carruagem em chama, ardente lume,

segundo a segundo ao lúdico passeio o leva.

Mártir da própria sina vai à densa treva,

mesmo de luz pródigo e força, o etéreo nume.

No fim da tarde, no langor flavo do ocaso,

sol posto, luz reposta da treva ao vaso,

faz-se o espetáculo de rara harmonia.

E na gala ocre e venial desse crepúsculo,

céu e terra, em silêncio, se irmanam num ósculo.

À hora do anjo, frente a frente, a noite e o dia.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 07/11/2009
Código do texto: T1909860
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