Fingidor
Não me considero um poeta, que vive o puro amor,
falarei aqui o que vejo em meu espelho, sem pudor.
Vejo um cara fingidor, finge suas lágrimas, sua dor,
finge toda saudade, finge até seu medo, seu rancor.
Finge seus sonhos, e vive sonhando acordado,
sou um poeta que finge estar com olhos fechados.
Finge seus dias, e vive suas luas, e seus sóis,
um poeta com muitas caras, com pares alados.
Finge ser poeta pois é seu sonho ser, finge ser.
finge ter muitos objetivos para continuar a fingir,
finge até que está tranquilo a dormir, a viver.
Finge até que tudo acima é verdade, para se defender.
tirando o fato que todo poeta é um fingidor,
só não quero fingir para mim e para o mundo o puro amor.
obs: texto inspirado em meu xará, Fernando Pessoa...
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa