Fingidor

Não me considero um poeta, que vive o puro amor,

falarei aqui o que vejo em meu espelho, sem pudor.

Vejo um cara fingidor, finge suas lágrimas, sua dor,

finge toda saudade, finge até seu medo, seu rancor.

Finge seus sonhos, e vive sonhando acordado,

sou um poeta que finge estar com olhos fechados.

Finge seus dias, e vive suas luas, e seus sóis,

um poeta com muitas caras, com pares alados.

Finge ser poeta pois é seu sonho ser, finge ser.

finge ter muitos objetivos para continuar a fingir,

finge até que está tranquilo a dormir, a viver.

Finge até que tudo acima é verdade, para se defender.

tirando o fato que todo poeta é um fingidor,

só não quero fingir para mim e para o mundo o puro amor.

obs: texto inspirado em meu xará, Fernando Pessoa...

AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

Fernando Pessoa

Fernando Lobos
Enviado por Fernando Lobos em 06/11/2009
Reeditado em 07/11/2009
Código do texto: T1907701
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