SONETO DA ANUNCIAÇÃO

Consola-me este horror, esta tristeza,

Porque a meus olhos se afigura a Morte

No silêncio total da Natureza.

[Bocage]

Quem és tu, quem és tu, súbita visão,

Que te levantas no frio da alvorada?

Vens oculta em véus de densa cerração,

Tens na meiga face a alva descorada...

Erras pelo céu esplêndida aparição,

Bela e doce na aurora perfumada!

Tens os santos óleos da extrem’unção...

Vens derramar nesta alma desgraçada!

Onde nos vimos dantes? És um anjo?

És celeste, és graciosa... Tens porte!

És por quem em sonhos me desarranjo?

A quem invoco, buscando minha sorte?

Por quem às madrugadas me constranjo?

Não! És tu, és tu, ó gélida Morte!

Alessa B
Enviado por Alessa B em 04/11/2009
Reeditado em 25/04/2023
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