André Luiz SAntos Araújo - Evento 1000 Sonetos
LUGAR ENCANTADO
André Luiz SAntos Araújo
Descerrando a porta do sótão, noutro dia,
Encontrei, dentro de um baú empoeirado,
Um livro antigo, há muito abandonado,
Que atiçou minha curiosidade arredia.
Pus-me a lê-lo e quanto mais eu lia,
Soube que existe um lugar encantado,
Onde jazem muitos poetas, e, maravilhado,
Na leitura eu sonhava e me entretecia.
Onde os poetas resumiram seus anos,
Após sofrerem, do Amor, os desenganos,
Encontraram a paz suprema nesse lugar.
Assim, eu que pago ao Amor alto preço,
E que de tais desenganos já padeço,
Queira Deus que eu seja enterrado lá.
VIDA DE POETA
André Luiz SAntos Araújo
Esta minha vida de poeta é dura lida,
Pois, ainda que vocação mão me falte
E que meus versos o mundo todo exalte,
Tenho a alma em sonhos bem perdida.
Por que, quando na poesia falo de vida,
Logo morte se gruda ao verso feito esmalte,
E, por mais que o Amor Eterno eu ressalte,
Verso sobre desilusões, em seguida?!
Por isso que, numa perscrutação cética
Investigando minha antologia poética,
Vós, amigos, debruçado me vistes.
Porém só achei mais paradoxos infindos:
Por que os meus versos mais lindos
São os meus versos mais tristes?!
VERSOS EM PEDAÇOS
André Luiz SAntos Araújo
Quando descobri quem realmente és, Beatriz,
Ao ver todas as tuas máscaras de enganar caindo,
Senti um ódio indômito, o meu peito, invadindo,
E vociferei: — Rasgue os versos que eu lhe fiz!
“— Os teus versos, Poeta tonto, jamais os quis,
E rasgo todos, tantos quantos fores me pedindo!”
Assim, inda jogaste todos pela janela, e sorrindo,
Saíste, não importando se eu era o mais infeliz.
Quis juntar todos os meus versos sofridos,
Na rua, pedaço a pedaço, todos de uma vez,
Mas, antes, por um transeunte, foram todos recolhidos.
Hoje me pergunto — as indagações me consomem! —
Se os meus versos, outrora desprezados, talvez,
Estejam fazendo feliz a mulher de outro homem.
SONETO DA INSENSIBILIDADE
André Luiz SAntos Araújo
Tu, Mulher, que o olhar me lanças,
Mas, tão insensível aos meus clamores,
Desprezaste todas as minhas flores,
E muito menos me dás esperanças.
Ver-me sofrer, Mulher, não te cansas.
Tu, que já desprezaste outros amores,
Amores, como o meu, repleto de furores,
Todos enforcados em tuas cruéis tranças.
Pelo que tu tens de mais sagrado,
No esplendor de toda tua formosura,
Não me tornes mais um desgraçado!
Não há nada pior que esta realidade dura,
De te ver, amor meu, meu bem adorado,
Sendo mais fria que uma sepultura!
SONETO DO AMOR POR TI (II)
André Luiz SAntos Araújo
O meu amor por ti é de intenso lume,
Como a estrela, no céu, mais brilhante,
Que se deixa ver e seduz, inebriante,
E faz do coração uma urna de perfume.
Não viva este amor, de nenhum queixume,
Tendo a pureza do mais tenro infante!
Vivendo intensamente a todo instante,
Não viva este amor, de nenhum ciúme!
Mas, muita gente assim não pensa,
E dizem, embaladas pela descrença,
Que só no começo tudo são flores.
Triunfe, então, sobre a desesperança,
O meu amor, que para frente avança,
E viva, cada dia, de começantes amores!
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