N E V O E I R O

Um nevoeiro em caracóis ondiandantes

desce a serra e, sobre as águas, como a estuprá-las,

deita o corpo nu no leito do rio e das valas,

separando-se, empós, como ternos amantes.

A carícia úmida, esse coito entre opalas,

borda de espuma o rio nesta manhã infante

onde a gula freme em cupidez lancinante

que o perpétuo ir embora dos rios cala.

Sacia-se a névoa e entre montes flui

mas ao calor do sol, em sono se dilui

e, dormindo, sonha co'auroras boreais.

Na manhã radiante o rio serpenteia;

guarda para a luz lurida da lua cheia

segredos e requintes desses esponsais.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 03/11/2009
Reeditado em 03/11/2009
Código do texto: T1902207
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