N E V O E I R O
Um nevoeiro em caracóis ondiandantes
desce a serra e, sobre as águas, como a estuprá-las,
deita o corpo nu no leito do rio e das valas,
separando-se, empós, como ternos amantes.
A carícia úmida, esse coito entre opalas,
borda de espuma o rio nesta manhã infante
onde a gula freme em cupidez lancinante
que o perpétuo ir embora dos rios cala.
Sacia-se a névoa e entre montes flui
mas ao calor do sol, em sono se dilui
e, dormindo, sonha co'auroras boreais.
Na manhã radiante o rio serpenteia;
guarda para a luz lurida da lua cheia
segredos e requintes desses esponsais.