Antônio Gomes Evento Mil Sonetos
Dádiva Divina
Antônio Gomes
Ó trombeta misteriosa do Juízo Final...
Num acorde musical, supremo e belo;
Num alarido sublime desse vesperal,
Eis que surgem de repente e tão singelo...
Eternas, imortais em almas vivas,
Da luz, das bênçãos, das promessas dita;
Da terra, em visões contemplativas,
Que o Eterno desse mundo ressuscita!
Mas, num instante em que acordei,
Flores, frutos, vinhos, verdes campos,
Novamente meu amor eu encontrei!
Espiritualizada em tão belo encanto,
Da divina providencia feito um canto,
Que por ela de meu sono acordei!
Minha Lua
Antônio Gomes
Depois dos temporais dos raios e trovões
Que do céu desabaram, na fúria noturna
Lá fora a terra, se refaz após destruições
Na calmaria do tempo à noite se ilumina
A natureza benigna mesmo assim oferece
Um momento para olhar ao alto e refletir
Enquanto medito eis que de logo aparece
Ela, a mensageira dos amores e do porvir!
Minha esperança ressuscita, renasço!
Fonte de inspiração presente dos céus!
O mundo se acalma, a natureza volta ao normal!
Lua! Lua benfazeja, dos namorados!
Voltaste amada minha para me guiar à noite,
Tão minha somente minha, depois do temporal!
Amigo irmão
Antônio Gomes
Fostes irmão, companheiro, e sincero,
Amigo! Quando foi que nós nos vimos,
Todas as vezes que o amor dividíamos,
Ao arrebatar-me do abissal mortífero?
Em tua bondade, amigo herói e leal,
Rompeste dificuldades, dividiste o pão;
No auge das festas, e da míope ilusão,
Na febre medonha, do delírio mortal...
Ouço, não acredito, duvido choro!
Da voz do infortúnio, desabo,
O mundo gira, cegam-me os olhos, a dor enluta...
Amarga tristeza dessa desgraçada sina
Perdi um irmão para a cabalística Morte
Hei de beber o fel, ao amigo lhe coube cicuta...
Elementos
Antônio Gomes
Ele viaja ao sabor dos ventos
Não perde jamais sua vocação
Na direção dos movimentos
Materializa os sonhos e emoção
Enquanto dura uma estação
Enquanto a vida transcorre
Enquanto anseia a inspiração
Criando tudo Ele percorre.
E mais: É ele que concede a vida
Cada vez que manifesta seus sentidos;
Do prazer, do amor, e da manifestação.
Na terra, no fogo, na água, e no ar.
Misturas de essência divina,
Nos elementos todos, a Criadora Mão!
Afro descendente
Antônio Gomes
Muitos séculos de existência um povo resistiu
Mantidos como escravos; corações como aço.
Em terra estranha, mesmo assim não sucumbiu.
Sem liberdade, sem respeito, sem amor e sem espaço.
Povo de fibra, valente, forte e determinado;
Com coragem e fé, lutando pra não desanimar.
Errantes no mundo, porém bem conservado;
Sublime chama acesa, na pira do altar.
Sua carne rasgada, corações moído, afinal.
Uma raça calejada; de sangue suor feito herança.
Um povo foi formado; uma nação que ressurgiu...
Uma estrela reluzente; num azul celestial,
Junto ao ouro cintilante; e no verde da esperança,
O Brasil com esse povo, sua imagem construiu!
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