Amilton Maciel Monteiro Evento Mil Sonetos

Mistério

Amilton Maciel Monteiro

A nossa vida em si já é um bom mistério...

Mas até onde meu juízo alcança,

Eu vejo que o sofrer, se é muito sério,

Aumenta sempre em nós a esperança!

Foi Deus que quis assim; não sem critério,

Mas só visando a nossa segurança...

Porque o Criador, mais que cautério,

Aspira a nossa bem-aventurança!

A dor tem sempre a sua utilidade,

Quer para alertar de um mal maior,

Ou tendo em vista a nossa santidade.

Por certo o sofrimento foi criado

Só pra que a gente possa ser melhor

E chegue, assim, ao céu, tão almejado!

Amor Platônico

Amilton Maciel Monteiro

Eu vou ser breve, pois já estou afônico

De tanto apelar por teu querer...

Pois ando bem cansado de sofrer

Com esse vai-não-vai do amor platônico!

Em minha vida eu nunca fui irônico,

Se eu digo que te quero é pra valer!

Me aceite por esposo, que vais ver

O que é que é ter marido faraônico!

A casa tu já tens para morar...

Teu ordenado dá pra sustentar

Nós dois e mais ainda a tua sogra...

Então, por que todo esse teu pavor?

Casemos logo, ou senão malogra

O plano que sonhei pra nosso amor!

Amor à Roça

Amilton Maciel Monteiro

Idoso, já comendo de apisteiro,

Sem condição alguma de voltar

À minha antiga faina de vaqueiro,

Eu passo o dia todo a meditar...

Mas não lamento estar o tempo inteiro

Deitado, sem poder me levantar,

Pois aproveito bem ainda o cheiro

Gostoso do curral que vem no ar...

Vem-me à lembrança o verde da campina

Bastante esbranquiçada de nelore,

Mal dissipava o sol toda a neblina...

E vou compondo versos, quanto possa...

Não quero que a saudade me estupore,

Com tanto amor que tenho pela roça!

Ano Novo

Amilton Maciel Monteiro

Começa um novo ano! E eu me proponho

Fazer faxina em meu interior;

Varrer as coisas de que me envergonho...

Lavar meu gênio e dele ser senhor.

Desejo o mesmo ao meu exterior:

Me desfazer de tudo que foi sonho

Juntar... e hoje não me tem valor...

Nem terei vida para usar... Suponho.

Quisera começar este Ano Novo

Assim liberto das inúteis cargas

E até com esse desejo me comovo!

Mas algo como grude me atrapalha

E as doces decisões ficam amargas...

E mais um ano enfrento com essa tralha!

Força do Amor

Amilton Maciel Monteiro

Alguns me julgam peça de museu,

De pouca ou de nenhuma utilidade;

Um homem que, se ainda não morreu,

Apenas serve de curiosidade...

De fato, neste mundo em que o himeneu

Agora é relegado à iniqüidade,

O que pensar de um esposo que viveu

Feliz, dez lustros de fidelidade?

- Por certo que é um louco tal sujeito!

(dirá alguém). Não pode ele ter feito

Tamanho sacrifício em sua vida!

Mas eu responderei a esse descrente:

Jamais tem existência compungida,

Quem ao amor se dá completamente!

http://www.avspe.eti.br/sonetos/indice.htm