MANHÃS DE OUTONO

MANHÃS DE OUTONO

(soneto brasileiro)

No outono, quando os ponteiros apontam seis,

o sol dobra as cobertas da aurora. Clareia.

As aranhas já recolheram da sua teia

as presas incautas; e abelhas buscam meis.

Casam moscas; os pássaros em alvoroço

brincam de pedir migalhas de pão ao homem;

frente à porta catam restos e, se abro, somem.

Galho há inda mal solarado, um colosso!

Fatias do dia-a-dia que cosem memórias

e a natureza, com arte, em coisas simplórias,

revela seu magno porte ao homem, que é cego.

É a mostra de amor que a sangue e seiva se entalha

na arte milenar que Deus criou e não falha

um só dia. Só eu, homem mesquinho, a relego.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 01/11/2009
Código do texto: T1898812
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