MANHÃS DE OUTONO
MANHÃS DE OUTONO
(soneto brasileiro)
No outono, quando os ponteiros apontam seis,
o sol dobra as cobertas da aurora. Clareia.
As aranhas já recolheram da sua teia
as presas incautas; e abelhas buscam meis.
Casam moscas; os pássaros em alvoroço
brincam de pedir migalhas de pão ao homem;
frente à porta catam restos e, se abro, somem.
Galho há inda mal solarado, um colosso!
Fatias do dia-a-dia que cosem memórias
e a natureza, com arte, em coisas simplórias,
revela seu magno porte ao homem, que é cego.
É a mostra de amor que a sangue e seiva se entalha
na arte milenar que Deus criou e não falha
um só dia. Só eu, homem mesquinho, a relego.