André Luiz Santos Araújo Evento 1000 Sonetos
A VIDA É UMA NOVELA
André Luiz Santos Araújo
Inda que seja noite, o sol existe...
É o que diz muita gente otimista,
Fazendo supor, à primeira vista,
Que a vida é para quem insiste.
Triunfa sempre aquele que persiste,
O herói colhe os louros da conquista,
Arrepende-se, enfim, o egoísta,
Exulta de amor a donzela triste.
Impressão de que tudo acaba bem!
Passa a ter ventura, quem não a tem,
Alcança a riqueza quem sempre a quis.
Minha vida é o inverso, contudo:
Foge o vilão, morre o mocinho, tudo
Às avessas... nenhum final feliz.
SONETO DA INDAGAÇÃO
André Luiz Santos Araújo
Disse a criança, com olhar marejado:
“Onde está Papai, Mamãe, onde está?!
Ele saiu prometendo regressar,
Porém me parece estar atrasado.”
“O Papai, Filho, acolheu um chamado
Do Papai-do-Céu, e não voltará,
Porque, como todos que chegam lá,
O Papai se tornou um anjo alado.
Mas, meu Filho, podes tu ter certeza,
Que o Papai, imbuído de pureza.
Tem-nos guardado sob sua proteção...”
E contemplando no céu o arrebol,
O menino intrigado, indaga o sol:
“Ele foi de foguete ou de avião?!”
SONETO DA PARTIDA
André Luiz Santos Araújo
Eu sempre parto, Amor, levando a saudade
Dos carinhos teus, dos beijos de tua boca,
Quando a mim te entregas, como uma louca,
Parecendo uma virgem cheia de vontade.
Nunca imaginei doer tanto a efemeridade
Das horas que contigo passo, é alegria pouca.
Dói-me, ainda, ouvir a tua voz já rouca
Clamando que eu não volte para a cidade.
É certo que nunca de ti levei queixume,
E nunca da outra tu demonstraste ciúme,
Quando a tua casa eu não venho.
E se o amor no teu peito se inflama,
Inda que outros deitem na tua cama,
Eles nunca hão e ter o que eu tenho.
SONETO À MINHA MÃE
André Luiz Santos Araújo
Quando morreres, Mãe, tão fatigada,
E tua alma ascender ao céu num brilho,
Morrerá, contigo, a alma do teu filho,
Condoída tanto, tão amargurada.
Vendo-te dourada e perfumada,
Tal qual o mais bonito junquilho,
Por acalentar meu ser maltrapilho.
És dez vezes santa, abençoada.
E tu me olhas com ar piedoso,
Pois sabes que hoje ando cheio
De angústia, deveras receoso.
Por que Mãe, diante deste sol posto,
Enquanto eu padeço nesse enleio,
Tu guardas o sorriso no teu rosto?!
Amor e Sexo
André Luiz Santos Araújo
Ao ouvir dos amigos tantas sexuais aventuras,
Eu que pensava haver entre o Amor e o Sexo
Uma ligação sublime, um estreito nexo,
Abdiquei do amor as sensações mais puras,
Para viver, tal qual os amigos, mil loucuras,
Com as mulheres que meu voraz amplexo
Cingisse. Moças de corpo convexo
Ou não... Perdi, assim, todas as canduras.
Concupiscente, tive as mulheres que quis,
Sem me importar se era triste ou feliz.
Inquietudes já me acabrunham, contudo.
Cansa-me esta vida vã e despudorada,
E, quanto mais trafego nessa estrada,
Sinto que me falta algo... o amor... tudo.
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