Cigarro Fumarento
Cigarro fumarento
Sei mui bem quem és tu, ó fumarento cigarro
Ígneo; quimera nefasta, falaz desgraça
Que pulmão e peito casto queima, regaça
No ir e vir da tua dolência, do teu pigarro!
Tu, que não vales d’enfermo agourento escarro
Ó Câncer dos Cânceres, mísera fumaça
Que mesmo a tragos parcos m’estilhaça
Enquanto aos teus sinistros prazeres me agarro!
Dize-me, então: queres por cinzas devorar-me
O corpo já por ti consumido?; a alma – inglória!
Por ti degradada, iludida por teu lume?
Se assim for, ao consumar tua negra vitória,
Não permitas qu’em hora derradeira eu fume;
Não expie a minh’empáfia, a minh’agra memória!
[Foram no total: um cigarro fumarento por quarteto e dois por terceto.]