Uvas de Akita
I
As uvas de Akita, são maduras, macias, saborentes.
Sabem-se, sabe-se lá por que abstrusos meios?
Sabem-se especiarias, saborosas, além de tudo - ardentes!
Ardem as tardes, queimam os corpos, num cíclico volteio.
Voltam-me em catadupa, revivescentes, os prazeres provados.
Fica a cruel dúvida: primaz a lembrança? Ou quiçá o gozado?
II
Num mágico farnel, agrupam-se como um exército em formação.
Gotas de cristais, a brotar do umbigo, como pedaços de diamante.
Juntam-se às nômades uvas, calda de pêssego, papilas em adoração.
Em sagrada Igreja ela se torna; em seu altar se prosta o amante.
Prova do vinho, do corpo também. Nada olvida, tudo devora.
Mata a fome do Ontem; sacia o Hoje; vive! Intenso! Explode o Agora.
III
Como naus perdidas em Calmaria, andam o Tigre e a Cadela
Guardam, com avarento temor, as venturas vividas, nunca sonhadas.
Num mar de sonho, em indevassável, invicta, dourada cidadela.
Depositam as lembranças, das uvas, das tardes, das fantasias realizadas.
Poeminha escrito para expressar a incerteza do grau de prazer entre a experiência do ato vivido, e o lembrar daquilo que se viveu.
Terras de São Paulo, Setembro de 2008.
João Bosco (Aprediz de poeta)