Cinco sonetos meus, publicados pelo Celeiro de Escritores, Editora Sucesso, São Paulo, 2009.

Solidão Interior 

Imensa é a solidão que vem das matas
E aquela que se estende nas planuras!
A que provém do céu, lá nas alturas,
Ou que murmura, além, entre cascatas!
 
Aquela que contorna e envolve os rios
E vai pousar, tranqüila sobre os lagos!
Que a brisa traz às praias, entre afagos,
A nos tornar mais tristes, mais vazios...
 
Grande, demais, é a solidão do mar!
Da tarde que desmaia a soluçar,
Buscando no horizonte seu jazigo!
 
Mas, a maior, a solidão mais triste!
A mais profunda solidão que existe,
Não vaga por aí... Mora comigo!


Se te amo! 
 
Ainda me perguntas se te amo...
Se aceso tenho aquele sentimento,
Que me fez crer em teu amor profano,
Fonte de todo o meu padecimento...
 
Por mim responda minha mocidade,
Aos braços teus lançada, loucamente...
Buscando, aflito e a rir, felicidade,
Onde morava a ingratidão, somente...
 
Falem por mim o meu viver errante...
A ânsia que sinto em buscar distante,
O fim desta agonia prolongada...
 
Falem por mim os vícios que consomem,
Que martirizam este pobre homem,
Hoje sem fé, sem pão, sem Deus, sem nada...


Não sei por quê?! 

Não sei dizer, nem lhe explicar, agora,
Por quê me atraí o céu e me fascina.
Por quê minh’alma triste e peregrina,
Subindo vai pelo infinito, afora...
 
Não sei dizer, nem lhe explicar deveras,
Por quê a solidão do mar a arrasta
E os horizontes e a planície vasta
Povoam-na de sonhos e quimeras!...
 
Apenas sei que fico só, vazio...
Perdido em meus pensares, me extasio
A solidão me invade e automatiza...
 
A tudo que me cerca fico alheio!
Sonhar! Subir! Voar! É meu anseio,
Fugindo a um mundo que me brutaliza...

 
Manhã sem sol 
 
Manhã sem sol! Manhã cinzenta e fria!
A brisa olente! O pássaro que trina!
Sinos que tangem! Tudo, enfim, combina,
Contrista o meu viver e me angustia...
 
Estranha sensação meu ser invade...
Vou sepultando indiferente, os sonhos
E, os dias meus passados, tão risonhos,
Vou divisando, além, numa saudade!
 
Manhã sem sol! Manhã cinzenta e fria!
Matando, embora, em mim minha alegria,
Eu te bendigo e te abençôo, ainda...
 
És para mim, manhã fria e sem sol,
A flor desabrochando no arrebol
Duma saudade muito terna e linda!...


Grandeza 
 
Por quê soberba e fria indiferença
Ao semelhante nutres?! Por ventura,
Tu vais além de humana criatura,
Reinando só sem que ninguém te vença!?
 
És, por ventura um pequenino Deus?!
És soberano, és rei ou és senhor
De tudo que na terra existe?! A dor,
O sofrimento são para os plebeus?!
 
Enganas-te, senhor. A nossa origem,
O fim que nos aguarda e a vertigem
Da morte que há de vir, um dia, a todos...
 
Tudo nos diz e afirma, certamente:
Viver devemos mui humildemente,
Grandeza é ilusão, meros engodos...
 
Antonio Lycério Pompeo de Barros
Enviado por Antonio Lycério Pompeo de Barros em 14/10/2009
Reeditado em 14/10/2009
Código do texto: T1865661
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.