AMIGA
AMIGA (Edson Moraes)
I
Amiga a quem busco cedo ou tarde
Na lembrança de um coração que arde
A crepitar de dor, de malquerer
Que ao riso do herói, ao choro do covarde
Se apressa ao meu encontro, e sem alarde
Me ensina a dor que dói - e sem doer
II
Amiga, que do naufrágio me arrebata
E me ameniza as feridas da chibata
Curando-me as angústias desta vida
Que ao meu riso de energias se dilata
Quase morrendo, minha saudade mata
A se lembrar de mim, compadecida
III
Amiga, assim me foste: generosa
E a cada temporal tão prestimosa
Que essa tristeza, eu juro, não sabia
Coisa de quem d´um pranto faz a prosa
E com o gozo de outrem é que goza
Dando, dando, dando amor em romaria
IV
Amiga, que ao celebrar esta amizade
Dourou todos os vãos da minha grade
E pôs o sol a amanhecer comigo
E foi de tanto esparramar felicidade
De se doar em infinita quantidade
Que agora estás abandonada, ao desabrigo
V
Amiga, do que eu tenho teu é tudo
Um verso simples, a flor, o peito mudo
Quem sabe um riso, a lágrima encardida
E sendo assim o que de mim posso arrancar
Cabe nas mãos, no coração, no próprio olhar
É o que te dou: a minha própria vida!