Relicário
Mar, queria ter a sorte tua,
correr pelos continentes,
ver onde se esconde a lua,
ser livre com as correntes.
Vem, mar, e te agrega na magia
das vagas; sê o primeiro encantado,
transforma esse sal, alquimia
das conchas abrindo um amor perolado.
Mar, tu, por quem suspiraste um dia,
não vês que as ondas não duram?
Rolam, por elas, o amor que chega cansado.
Mar, que só o teu sonho segreda,
no fundo do teu leito tens guardado
o pecado e a virtude, dois relicários de pedra.