SONETO FÉTIDO
"é fazendo merda que se aduba a vida"
(diz-se que é conhecimento popular)
inspirado em Glauco Mattoso
Deram-me um mal-cheiroso e estúpido tema,
mas bem que gostei (não do cheiro, mas da idéia).
Está certo que, sim, esta investida extrema
há de causar-me ao menos fortíssima apnéia.
O tema apareceu-me na forma de emblema,
versos surgiram como em uma diarréia
surgem todas as fezes: que são do poema,
aliás, seu assunto (e vocês, a platéia):
Um dia, dos franceses nos vem o perfume;
noutro, dos bois e vacas nos vem todo o estrume
(cada dia a fragrância cheira indefinida)
Sentindo dia-a-dia um diferente cheiro,
melhor aproveitar: se estamos num chiqueiro,
façamos também merda e que essa adube a vida
24 de abril de 2003
© Copyright 2003. Todos os direitos reservados.