Se há amor ...
Navegar na mesmice do suor diário,
pelo pão que o diabo amassou com esmero,
ter a vida adiada, sem muito tempero
como fosse outro rato do belo cenário
da gaiola do canto do lírico canário
como escravo se entrega ao desespero
e remoí entre dentes o seu destempero
contemplando no mar o sonho centenário
se há amor a dor é nada, pois não constrange,
nem anula os momentos cheios de bondade
onde rostos se olham plenos e com sorrisos,
se entendem, amparam, p’ra sempre de verdade,
semelhantes em ódio-amor, se preciso,
até a morte em colheita passar o alfanje.