SONETO DE UM AMOR POSSÍVEL
Eu te amo, eu te amo e, olha, não te amo pouco
e de um amor sem pretensão, discreto,
que assim, por fora, surge tão quieto,
mas que, por dentro, ruge como um louco.
Tanto gritar talvez o deixe rouco,
pairando lá no fundo puro afeto,
que, se não for em tempos bons desperto,
dormirá como em noite após sufoco.
Tal qual um cacto a afrontar deserto,
sem brilho algum, externamente olhado,
o meu amor, tão vivo quando aberto...
e, sem saber se é certo ou se é errado,
pode imortal nem ser, mas diz: avante!,
lutando até o derradeiro instante.
01 de janeiro de 2003
(MACHADO, Wanderson. Trôpegos passos. Brasília: ed. do autor, 2004. ISBN 85-98603-05-8)