SONETO AO HOMEM QUE PASSA

O homem que conta os passos, de expressão sisuda,

arremessa a moeda de troco na caixa,

à mão aberta a dizer uma palavra muda,

e prossegue co'a face dura e cabisbaixa...

No olhar fundo, o passado todo se desnuda,

pois há barba a fazer... face que não relaxa...

mão no bolso da calça que pouco se cuida...

foi-se a esperança... em olhos crus, alma não se acha...

Vêem-se claramente, no gasto sapato,

os vestígios de andanças... pegadas de outrora...

a mão de enxada esquece a força, não o trato...

Seus pés hão de levá-lo novamente embora...

quando, ao chegar em casa, desdobra um retrato,

o homem tão carrancudo é menino que chora...

6 de janeiro de 2003

(MACHADO, Wanderson. Trôpegos passos. Brasília: ed. do autor, 2004. ISBN 85-98603-05-8)

WANDERSON MENDES MACHADO
Enviado por WANDERSON MENDES MACHADO em 23/09/2009
Reeditado em 01/10/2009
Código do texto: T1827265
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