TRÔPEGOS PASSOS

Digo, acredito — creio e penso eu — não me engano:

não é louca paixão isto que me comprime,

nem saudade infinita a dor que me deprime,

é a simples angústia do vão ser humano.

Teço esta minha história em branco e puro pano.

Como quero viver! Isto que não é crime!

A tinta do destino — prudente — se imprime

nas páginas avulsas do cotidiano...

É no rápido andar dos dias que tropeço,

no enigma das palavras que me acho, me faço,

num êxtase da busca, desato-me em verso.

As decepções e amores provocam-me o traço —

nesta espiral contínua, sei que nunca cesso

o prosseguir do próximo trôpego passo.

23 de agosto de 2002

(MACHADO, Wanderson. Trôpegos passos. Brasília: ed. do autor, 2004. ISBN 85-98603-05-8)