A DOENÇA DO POETA
Todo poeta leva n'alma a chaga
que por vezes o aflige à madrugada,
esta o desperta a recordar a amada,
a lua sobre ele inflamada o afaga
Ou escreve ou a noite será vaga,
pois brigar adianta pouco ou nada:
esta cruz que ao poeta está fadada
escolhe ele se o adoça ou se esta o amarga
E à noite tal moléstia, se o procura,
sua infame alma de poeta abriga
a poesia, que é sua própria cura
Sobre o papel, a letra se destila:
é a doença, sã, que assim o obriga
e pode enfim a alma dormir tranqüila
21 de abril de 2003
(MACHADO, Wanderson. Trôpegos passos. Brasília: ed. do autor, 2004. ISBN 85-98603-05-8)