CHICO LOUCO

Qual cusco sem dono, pés no chão e andarilho,

da sua tralha transportando o fardo imundo,

sem passado e sem nome, o pobre vira-mundo

venceu léguas, sem saber de quem foi filho.

De Espumoso a Carazinho, quiçá Passo Fundo,

dormia alhures, sem forro, na coxilha,

em meio às sesmarias que o rústico trilha.

O caminho é seu lar; sina - ser vagabundo.

Dia houve, porém, que o azar lhe foi propício,

pôs termo ao seu inconsciente suplício

- um carro mais apressado o atropelou -

Da estrada à beira, num ermo qualquer,

em tosca cruz de pau, sem pranto de mulher,

lê-se a inscrição: “Chico Louco” descansou.

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 19/09/2009
Código do texto: T1818970
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