No fundo desse rio
Edir Pina de Barros
No fundo desse rio, nos lajedos,
há folhas mortas, soltas pelo vento,
consegue vê-las fino olhar atento,
marcado pela dor e por degredos;
no fundo desse rio há mil segredos
desenterrá-los nem sequer avento,
cobertos por um lodo pestilento,
que viça dentro as fendas dos meus medos;
no leito desse rio – que é meu mundo –
também se escondem tantos sonhos meus,
que se perderam entre velhas mágoas,
são folhas mortas, ficam lá no fundo,
pedaços de mim mesma, dos meus eus,
nas locas desse rio, sob as águas.
Cuiabá, 14 de Setembro de 2009.