Das entranhas
 
 
Mas, vejam só! De mim sobraram só entulhos,
reles pedaços do que um dia esteve aqui.
Eu me reviro nas entranhas, me vasculho,
mas não encontro aqueles sonhos que vivi.

Fiquei patético e nostálgico, sei bem,
sou arremedo de mim mesmo no que fui.
E se algum dia houve o respeito e não desdém
isso é passado; em vão fluiu e não reflui.

A minha imagem decadente hoje se esgueira
por entre as sombras, de tristeza e de vergonha.
Se escamoteia e se camufla por inteira,
fugindo ao dia e a esperar que o sol se ponha.

Na noite escura – meu refúgio ermo e frio –
vou me escondendo nas entranhas do vazio.

                           .oOo.