O AMOR DE UM ARROIO

E vou seguindo obnóxio meu destino
Em mim sentindo esta sanha que corrói
Pois me destroi viver a vida em desatino
Pois sou menino, é triste a vida, assim me dói

Nos desalinhos cavos sentimentos frios
Eu nos desvios me empertigo a não sumir
Pra não cair onde debalde corre o rio
Ver no meu cio todo ao mar o amor fluir

Nas auras tristes de um inverno vou sofrer
E nada ser diante às águas dissipar
Eu vou nadar nas grotas lamacentas ver

Um arroio sou nessas cascatas a sonhar
Sentir baldar fátuo desejo de te ter
Ó minha amada, tão formosa quanto o mar



Vocabulário:
Auras = Brisas
Arroio = Pequena corrente de água
Baldar = Frustrar
Cavos = Profundos
Debalde = Em vão
Empertigo = Endireito
Fátuo = Insensato
Grotas = Cavidades em ribanceira de um rio provocada pela chuva
Obnóxio = Escravo, dependente
Sanha = Cólera