NA MADRUGADA [XCVIII]

Por companhia apenas a canção do galo,

em solidão total, eu todo me madrugo

e, de mim mesmo, sendo já o meu verdugo,

a pensar na mulher da qual eu nunca falo.

Mas encontro refúgio mais a jeito, enfim,

na guarida melhor de amena madrugada,

para me pôr em paz comigo e minha amada,

como se num tranquilo banco de jardim.

No idílio, vem-me escrita a bem-amada, pois,

e, só, me quedo como se estivesse em volta

a distante que tanto almejo ter comigo.

Em pensamento, nós ficamos bem a dois:

a solidão sequer me traz qualquer revolta,

porque, no transe meu, a dama tem abrigo.

Fort., 03/09/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 03/09/2009
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