UM TIETE [XCIV]

Eu me fiz tão seu fã, seu amador, não sei,

e um tiete da atriz chegada à hora certa,

no ensejo em que minh’alma andava já deserta,

e sem sal, como os olhos tristes de um nissei.

Prego cartaz no vento que me está desperta

a vida de vassalo, dantes que amarguei,

tal se, por longo jugo, sob os pés de um rei,

ao ter no peito a lança, numa chaga aberta.

Hoje, que a primavera traja cores novas,

eu lhes divulgo que, por tudo o que me arde,

dela (da minha amada) vem-me o sol das trovas.

Pois, enfim, com vigor, explode-me sem calma

a paz de vê-la, às vezes, mas somente à tarde,

quando amá-la constante é que me cobra a alma.

(Setembro de 1997)

Fort., 29/08/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 29/08/2009
Reeditado em 05/09/2009
Código do texto: T1781141
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.