CORAÇÃO
Mas que tristeza, coração, é essa?
Batendo bem mais forte só porque
uma mulher não quis amar você,
quando mulheres têm no mundo à beça?
Para que comoção, para que pressa?
Mulheres há que o coração não crê
em mais amor. De amor morrer, por quê?
Amor é doação, mais que promessa.
Pulsa normal, maneiro, lentamente,
renova-te em meu sangue, se quiseres,
e leva a nossa vida para frente.
Se te fere um amor, de amor me feres.
Esquece, coração, o amor presente
e aquece o coração de outras mulheres!
CORAÇÃO TRAIÇOEIRO
Aprende coração! Vê se me entendes!
Quando criança, nem batias disso!
O amor não marcava compromisso.
mas apenas doidices de duendes.
Eu cresci e mudaste. Agora tendes
a bater por amor. Apenas isso.
Nem mesmo quando dele eu seja omisso,
mais forte o baticum manter pretendes.
Sossega a pulsação, tanto não batas!
Se bates, até mesmo, ante um retrato,
um dia, ante o modelo, tu te enfartas!
Palpita, coração. com mais recato!
Batendo por amor, de amor me matas...
Se me matares, juro que te mato!
CORAÇÃO II
Um coração que canta, às vezes chora.
É como na gaiola um passarinho:
grassa gorjeios, cantos que adivinho
sejam trinos de dor de quem deplora:
os voejos no azul, que vê lá fora,
a vontade de volta para o ninho,
o desejo de amar, sendo sozinho,
os sonhos de fugir, de ir embora.
Um coração que canta, às vezes tenta
esconder a tristeza, vez em quando,
pulsando o mesmo tom, de forma lenta.
Reconheço do meu qualquer desando:
quando não tem amor, amor inventa
para fazer-me crer que está cantando.
Odir, de passagem