A Sede
A sede é louca pois, na falta d’água,
bebe a saudade que guardou da fonte,
e colhe orvalho pra beber a noite,
e tanto sonha que se afoga em mágoa.
A sede sede seu sabor às uvas
em tardes mansas com aragem fresca
mas chora ausências, quando vem a seca,
vertendo o pranto pra fazer a chuva.
A sede é seda no esplendor da rosa
e se dá toda nas feições mimosas
da moça aflita que a paixão consome...
E, sendo d’água, não aceita logro...
e, sendo seca, se rebela em fogo
e vira fúria nas paixões dos homens.