SONETO DA VIDA - resposta ao poema Desencanto de Manuel Bandeira

Sei que é muita ousadia de minha parte querer responder a uma poesia do saudoso poeta clássico, Manuel Bandeira, mas relendo seu poema DESENCANTO, do livro de poesias, Estrela da Vida Inteira, não resisti e escrevi o SONETO DA VIDA. Assim eu procurei demonstrar que escrevemos por motivos diferentes, pois enquanto Bandeira dizia: “Eu faço versos como quem morre.”, eu digo: - Pois eu faço versos só como quem vive! Vamos aos poemas.

DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora

De desalento... de desencanto...

Fecha o meu livro, se por agora

Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente...

Tristeza esparsa... remorso vão...

Dói-me nas veias. Amargo e quente,

Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca

Assim dos lábios a vida corre,

Deixando um acre sabor na boca.

- Eu faço versos como quem morre.

Manuel Bandeira

Teresópolis, 1912

SONETO DA VIDA

Às vezes eu acho que a vida é um porre

Assim mesmo quero teimar em viver...

Porém consciente que hei de morrer,

Não faço jamais versos como quem morre.

Da minha tristeza um poema se escorre.

Se faço meus versos estando a sofrer...

Se quero um alguém para me socorrer,

Eu sei, que o poema é quem mais me socorre.

É ele que acalma e me trás esperança...

Tal qual o sorriso de uma criança...

Que ainda é tão pouco, mas que sobrevive!

Meu verso é a vida que pulsa na veia,

É como o amor sob a lua cheia.

- Pois eu faço versos só como quem vive!

Recife, 24/07/2009