Soneto da necessidade
Triste sina de quem é do trabalho
Sobrevive nutrido para o sono,
E no mais na labuta para o dono
Dos negócios, fábricas e ralho.
Sendo forte, agüenta qual carvalho
No tufão duma crise sem abono,
Sem guarita, ou ajuda, sem patrono,
E nos bicos, vivendo de pão e alho.
Falta pão, alho abunda, arde na língua,
Falta alho, o pão duro quer dentista,
Falta tudo, esperança é de artista,
Ele, bêbado, fica equilibrista,
Num tombo, na perna dói a íngua,
E se vê derrubado, queda sinistra