Não sei se sou eu que escrevo e penso
Não sei se sou eu que escrevo e penso
Tudo se escapa ao nada e entranha em mim
E cada vez que falo sou fogo denso
Onde incendeio o eu e lhe dou fim.
Aqui eu vejo um barco e uma espera
E ao longe sou também essa conquista
No meio rola a vida, o sol, a esfera
Indiferente ao eu qu’aquém me avista.
Desconheço esse eu que em mim navega
E estes mastros que m’enlaçam para dentro
E me afastam do eu em escrita cega
Penso então em fugir e andar dispersa
Noutro mar que me escreva pelo centro
Deste eu, e descubra o que em mim versa…