Soneto do Cadafalso
SONETO XXXI
Se és tu, deveras, quem me imputa a morte,
Resignado, suplico que se faça,
Pois, antes esmigalhar-me em tua maça,
Que esperar, na existência, melhor sorte.
Se tu me impões da vida o abrupto corte,
Seja tua, a lança que me trespassa.
Que tu, só tu, te embriagues nesta taça
Em que me faço rubro – e teu consorte.
Porém, se revogares a sentença...
Se acaso, o que te inspiro é piedade
E da pena me libertas... Me invade
O peito a chaga da mais grave ofensa:
Pois, lograr, por carrasco, tal beldade,
Não será castigo, mas recompensa.
Rio, 27 de Dezembro de 2001