Soneto da Morte Próxima
SONETO XXVIII
Neste estrado frio em que ora me deito,
Repousa o velho corpo em agonia.
Meu ser, antes loquaz, já silencia
Ante o atroz suplício, que me é direito.
O ar já se faz fétido e rarefeito,
Dada a putrefação que se inicia...
E eu, o que sou...? Esta triste alegoria
Que, tênue, se desmancha sobre o leito...
Eu, que versos fiz...Que zombei do mundo!
Fiz da pena, o gládio... da Arte a batalha...
Hoje, findo só, sem ter quem me valha,
Quem o pranto ouça deste moribundo.
Já nem, sequer, me servem de mortalha,
Estas páginas que, em versos, inundo.
Rio, 7 de Dezembro de 2001