Soneto da Morte Próxima

SONETO XXVIII

Neste estrado frio em que ora me deito,

Repousa o velho corpo em agonia.

Meu ser, antes loquaz, já silencia

Ante o atroz suplício, que me é direito.

O ar já se faz fétido e rarefeito,

Dada a putrefação que se inicia...

E eu, o que sou...? Esta triste alegoria

Que, tênue, se desmancha sobre o leito...

Eu, que versos fiz...Que zombei do mundo!

Fiz da pena, o gládio... da Arte a batalha...

Hoje, findo só, sem ter quem me valha,

Quem o pranto ouça deste moribundo.

Já nem, sequer, me servem de mortalha,

Estas páginas que, em versos, inundo.

Rio, 7 de Dezembro de 2001

Antonio Sciamarelli
Enviado por Antonio Sciamarelli em 07/06/2006
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